"Afirma que a violência de uma sociedade se mede pela violência que exerce ou não sobre as mulheres.
Elas são os canários na mina de carvão (the canary in a cool mine). O modo como são tratadas espelha o grau de doença de uma sociedade.
O que diz às mulheres que não lutam pelos seus direitos?
Há dois tipos de mulheres nesta situação. As privilegiadas, para as quais já se atingiu tudo o que era preciso – e questionam para quê continuar uma luta tão pouco sexy. E as que não tiveram acesso à informação, aos instrumentos para pensar criticamente. O que pode fazer uma mulher pobre e analfabeta numa aldeia da Índia? Se não consegue alimentar os filhos, como lhe vamos pedir que lute pelo feminismo? (…)
Como é que a idade é uma armadilha?
À medida que envelhecemos, a sociedade descarta-nos. A natureza faz isso em todas as espécies. Mas, entre os humanos, não nos descarta a todos por igual – descarta as mulheres. É preciso ter orgulho da idade que se tem.
Como é envelhecer?
Ser velho é despedir-se de alguns atributos da juventude. Para mim, a juventude acabou quando fiz 50 anos e a minha filha morreu. (…)
E como é apaixonar-se aos 70 anos?
É igual do que apaixonar-se aos 30, mas com uma sensação de urgência – não há tempo a perder. Cada dia é um dia a menos. Percebes isso quando as pessoas à tua volta começam a morrer, quando morrem os teus pais, quando os teus netos são adultos. Cada dia que perdes por uma zanga, uma impaciência ou um mal-entendido, é um dia menos no calendário. Então, aprendes a usar a cabeça."
ISABEL ALLENDE, escritora chilena (1942-), excertos da entrevista concedia a Luciana Leiderfarb, publicada na revista «"E", do jornal Expresso de 18 Dezembro 2020