(Zbigniew Herbert)
Se vais fazer uma viagem que seja uma longa viagem
aparente deambulação sem rumo a tactear
para poderes conhecer com o olhar e o tacto a aspereza da terra
e medir-te com o mundo em toda a tua pele
(...)
Se acaso souberes algo silencia o teu saber
estuda de novo o mundo qual filósofo jónico
saboreia a água e o fogo o ar e a terra
eles continuarão a existir quando tudo tiver passado
a viagem prosseguirá embora já não seja a tua
(...)
Descobre a insignificância da fala o poder régio do gesto
a inutilidade dos conceitos a pureza das vogais
com as quais tudo se pode exprimir tristeza alegria fascínio raiva
mas não sintas raiva
aceita tudo
(...)
Assim a haver viagem que seja uma longa viagem
verdadeira viagem da qual não se regressa
réplica do mundo viagem elementar
diálogo com os elementos da natureza pergunta sem resposta
pacto forçado após a batalha
grandiosa reconciliação
ZBIGNIEW HERBERT, poeta e ensaísta polaco (1924-98), versos do poema “A viagem”, in “POESIA QUASE TODA” Ed. Cavalo de Ferro, 2024
Leia sobre o poeta aqui .
Boa semana!
Sem comentários:
Enviar um comentário