16 junho, 2025

Pétala nº 3860

"(…) quando escrevo, faço-o por amor à palavra (…)”

“Escrevo, quase inteiramente, a partir das entranhas do desgosto.”

“A alma de um homem, ou a falta dela, tornar-se-á evidente pelo que ele consegue cinzelar numa folha branca.”

“(…) não há nada mais mágico e belo do que as frases a ganhar forma no papel.”

CHARLES BUKOWSKI, poeta e romancista norte-americano (1920-94), in "Sobre a escrita", Ed. Alfaguara, 2025


“Quando se desaloja uma frase prisioneira há muito tempo, ela aproveita a liberdade.”

“Os romances servem para se escrever o que se é incapaz de fazer na vida real”

“Há livros que falhamos, como certos encontros: passamos ao lado de histórias e de pessoas que poderiam ter mudado tudo. Por causa de um mal-entendido, de uma capa, de um currículo sofrível, de um a priori. Felizmente, a vida por vezes insiste.”

VALÉRIE PERRIN, escritora francesa (1967-), in "TRÊS", Ed. Presença, 2023


"É inevitável. (...) a dado momento - tem logicamente de acontecer - um escritor terá um último leitor."

"Vivemos, morremos, somos lembrados, somos esquecidos. Não de repente, mas por etapas." 

Para os escritores, o processo de ser esquecido  não é claro. «É melhor para um escritor morrer antes de ser esquecido, ou ser esquecido antes de morrer?»"

JULIAN BARNES, escritor inglês (1946-), in “Nada a temer”, Ed. Quetzal, 2020
“Manhã após manhã durante 50 anos, enfrentei a próxima página indefeso e mal preparado. Escrever para mim é um feito de auto-preservação. Se não o fizesse, morreria. Então fi-lo. A perseverança, e não o talento, salvou-me a vida. Tive também a sorte de não considerar a felicidade importante e de não ter compaixão por mim próprio.”

PHILIP ROTH, escritor americano (1933- 2018)

(fotos PIXABAY)
Boa semana!

09 junho, 2025

Pétala nº 3859

"Amigos
Que desgraça nascer em Portugal"
(António Nobre, citado em "Viagem de Inverno")


Férias da Pátria (2007) - excerto
“No país que me coube em sorte, os velhos são tristes, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; os serviços públicos funcionam mal, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; as escolas estão degradadas, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; os transportes são maus, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; as ruas têm buracos, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; os canais de televisão são um estendal de imbecilidades, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; os políticos são medíocres, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; as praias estão poluídas, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; as casas estão arruinadas, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; nas bibliotecas públicas os livros caem de podres, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria; as câmaras são focos de corrução, mas não me importo porque pertencem à minha Pátria. (…)
Chegara o momento, concluí, para tirar férias da Pátria.”

Inquietações modernas (2018) - excerto
"Muitos dos pais abastados argumentam que os jovens têm hoje facilidades únicas (...) mas quando começarem à procura de emprego, outra música cantará. Os fundos que chegaram ao nosso país após a adesão à União Europeia foram, sabemo-lo, mal utilizados. Os nossos descendentes têm razão se, um dia, nos pedirem contas pelo que andámos a fazer nas décadas de 1980 e 1990."

MARIA FILOMENA MÓNICA, filósofa, socióloga, docente, investigadora, escritora portuguesa (1943-), in “Viagem de Inverno” (compilação de artigos publicados em diversos jornais e revistas), Ed. Relógios de Água, 2024


Passo a noite a sonhar o amanhecer.
Sou ave da esperança.
(...)

MIGUEL TORGA, poeta português (1907-95), in "Poesia completa (versos do poema "Ave da Esperança")",
 Ed. Dom Quixote, 2000

(fotos: PIXABAY)
Boa semana!

02 junho, 2025

Pétala nº 3858

"Ser Cogumelo"


"Se eu não fosse um ser humano, seria um cogumelo. Um cogumelo indiferente, insensível, com uma pele fria e escorregadia mas, ao mesmo tempo, dura e delicada. Haveria de crescer sombria e sinistramente em árvores derrubadas, estaria sempre em silêncio e, com os meus dedos de cogumelo estendido, sugaria delas as réstias de Sol. Haveria de crescer naquilo que morrera. Haveria de penetrar essa manta morta até alcançar a terra pura e os meus dedos de cogumelo aí se deteriam. (…) 

Seria efémera, mas, como ser humano, também sou efémera. Não estaria interessada no Sol, não o seguiria com o olhar, jamais voltaria a esperar que nascesse. Ansiaria apenas pela humidade, exporia o meu corpo às neblinas e às chuvas, cobrir-me-ia com gotas de ar húmido. Não haveria de distinguir a noite do dia, pois, para quê? (…)
Haveria de perdurar deliberadamente horas a fio, sem movimento, sem crescer, nem envelhecer, até alcançar a firme convicção de que tinha poder não só sobre as pessoas, mas também sobre o tempo. Cresceria apenas nos momentos mais importantes do dia e da noite – ao alvorecer e ao entardecer, quando tudo o mais está ocupado em despertar ou em adormecer.

Seria generosa com todos os vermes; ofereceria o meu corpo aos caracóis e às larvas dos insectos. Nunca sentiria medo e não recearia a morte. O que é a morte, afinal, pensaria eu – a única coisa que me podem fazer é arrancar do solo, cortar, fritar e comer.”

OLGA TOKARCZUK, psicóloga e escritora polaca (1962-), in “Casa de Dia, Casa de Noite”, Ed. Cavalo de Ferro, 2022
Prémio Nobel de Literatura, 2018

(Fotos: PIXABAY)