30 outubro, 2023

Pétala nº 3791


"A vida não é senão uma longa perda de tudo o que amamos."

“A morte de uma mãe é o primeiro
desgosto que choramos sem ela.”

“A ausência de um pai intensifica a lembrança da sua presença.”

“Há uma coisa mais forte do que a morte
a lembrança dos ausentes na memória dos vivos.” 

"Se pudesse voltar atrás...
Tenho vontade de abrir as janelas e gritar a quem passa: «Reconciliem-se! Peçam desculpa! Façam as pazes com aqueles que amam! Antes que seja demasiado tarde.»"

VALÉRIE PERRIN, escritora francesa (1967-), in "A breve vida das flores", Ed. Presença, 2022


“Ou enterras os teus pais, ou eles enterram-te a ti e choram-te mais piedosamente do que alguma vez conseguirás fazer por eles.”

IAN MCEWAN, escritor inglês (1948- ), in “Lições”, Ed. Gradiva, 2022



(fotos net)

23 outubro, 2023

Pétala nº 3790

"Salvar qualquer coisa do tempo onde não voltaremos a estar." - (1)
(Annie Ernaux, in "Os Anos")


1950, 1960, 1970, 1980...

“Éramos ultrapassados pelo tempo das coisas.” 

“O tempo das coisas sugava-nos e obrigava-nos a viver sem parar…” 

“E não se envelhecia. Nenhuma das coisas à nossa volta durava tanto que pudesse ascender à condição de envelhecimento, eram substituídas, renovadas o mais depressa possível. A memória não tinha tempo para as associar a momentos da existência.”

“Ainda que se dissesse «toda a gente utilizará a informática», não tínhamos a mínima intenção de ter um computador. Era o primeiro objeto perante o qual nos sentíamos inferiores.”

"Vivíamos mergulhados na profusão de tudo, da informação geral à opinião de «peritos».

"Tudo se discutia e desencriptava." 

"O repertório dos saberes comuns aumentava."

"Algures no mundo havia mulheres a cobrirem-se com véus da cabeça aos pés."

ANNIE ERNAUX, escritora francesa (1940-), in "Os Anos", Ed. Livros do Brasil, 2020
Prémio Nobel de Literatura, 2022

(Frases soltas encontradas nas 196 páginas do livro.)



(fotos net)

16 outubro, 2023

Pétala nº 3789

“O passado nunca está morto. Nem sequer passou.” 
(William Faulkner, citado por Daniel Sokatch, in "Israel")


"O que se faz com um miúdo… que descobre subitamente os factos da vida e da morte?" 

“O que se faz com uma criança que com o seu dinheiro de bolso, compra um pequeno bloco laranja e aponta nele diariamente, a lápis, quantos israelitas restam depois do último atentado terrorista." 

"E um dia descobriu que uma parte dos israelitas são árabes…. 
Que os seus cálculos estavam todos errados, e que tinha de deduzir os árabes israelitas do número total dos israelitas."

"… que é possível viver uma vida inteira sem que essa vida tenha algum sentido." 

 "… uma vida que em nada nos faz sofrer nem nos dá realmente prazer. É viver por viver. Porque por acaso não estamos mortos.” 

DAVID GROSSMAN, escritor israelita (1954-), in “Até ao fim da terra”, Ed. Dom Quixote, 2012


“Invadiu-me de repente um terror daqueles que se sente apenas frente à negrura humana.” 

“Talvez a vida não seja de facto para todos.”

DAVID GROSSMAN, escritor israelita (1954-), in “A vida brinca comigo”, Ed. Dom Quixote, 2020

“… tal como aconteceu no passado, a história de Israel continuará a ser escrita em tons cinzentos.”

DANIEL SOKATCH, judeu, activista americano (1968-), in “Israel”, Bertrand Editora, 2021

(fotos net)

09 outubro, 2023

Pétala nº 3788

A chuva entrou por um buraco
fininho - Em menos de um relâmpago
inundou o Mundo."

(Lídia Jorge, in "Misericórdia")


"Não gosto nada de pessoas tristes. Por mais triste que a gente fique, nunca se consegue salvar o mundo. Ou consegue-se?"

"Misterioso é o sentimento da misericórdia, não tem hora marcada para entrar ou sair do ser humano."

LÍDIA JORGE, escritora portuguesa (1946-), in “Misericórdia”, Ed. D. Quixote, 2022


“Não somos uma espécie inteligente. Uma espécie inteligente cuida da sua descendência. Estamos a preparar o inferno para os nossos netos.”
LEO VAN BROECK, engenheiro e arquitecto belga (1958-)

“Escrevia o poeta Rimbaud, em 1871: «Ei-lo! Eis o século do inferno!»
Na verdade, todos os séculos estão no mesmo fuso horário – o fuso horário do inferno.”
GONÇALO M. TAVARES, professor e escritor português (1970-), in crónica “Guerra, Vida, Espaço e Tempo”, revista "E", jornal Expresso, Janeiro 2023

“Ah! dá nojo ver o mundo Pensar tão pouco profundo”.
FERNANDO PESSOA, poeta português (1888-1935)





(fotos Pixabay)

02 outubro, 2023

Pétala nº 3787

“… cada hora a sua agonia”
(Itamar Vieira Júnior, in Torto arado")


“Meu pai não tinha letra, nem matemática, mas conhecia as fases da lua. Sabia que na lua cheia se planta quase tudo, que mandioca, banana e frutas gostam de plantio na lua nova, que na lua minguante não se planta nada…
Meu pai, quando encontrava um problema na roça, se deitava sobre a terra com o ouvido voltado para seu interior, para decidir o que usar, o que fazer, onde avançar, onde recuar. Como um médico à procura do coração.”


“Meu pai havia nascido quase trinta anos após declararem os negros escravos livres, mas ainda cativo dos descendentes dos senhores de seus avós. (...) Ele nasceu no meio de um charco, porque não haviam permitido que sua mãe deixasse de trabalhar naquele dia.”

ITAMAR VIEIRA JUNIOR, geógrafo, doutor em Estudos Étnicos e Africanos, escritor brasileiro (1979-), in “Torto arado” (Prémio LeYa, 2018), Ed. LeYa, 2019

(Fotos Teresa Dias - Pico Ana Ferreira, colunas prismáticas de formação vulcânica, PORTUGAL/Porto Santo, 2023)


Miminho outonal do amigo Luís Rodrigues. Gostei muito. Obrigada!
Grande abraço, um ameno e feliz Outono.