“- Olha ali a Estátua da Liberdade. - Uma mulher alta e verde de roupão em pé sobre uma ilha com a mão no ar. - O que é que ela tem na mão?
- É um farol, querido… A liberdade a iluminar o mundo…”
- Já viste o que seria… ir ao estrangeiro num desses paquetes. Imagina atravessar o grande Atlântico em sete dias.
- Mas o que é que as pessoas fazem tanto tempo num barco, papá?
- Não sei… Devem passear no convés e jogar às cartas e ler e esse género de coisas. Depois fazem bailes.
- Bailes num barco! Deve balançar imenso…
- Nos grandes paquetes modernos há bailes.
- Porque é que não vamos papá?
- Talvez um dia possamos ir, se conseguirmos juntar dinheiro.
- Oh, papá, despacha-te a juntar dinheiro.
- Papá, porque é que não somos ricos?
- Há muita gente mais pobre que nós, Ellie… Não gostavas mais do papá se fosse rico, pois não?
- Oh, gostava, pois, papá.”
JOHN DOS PASSOS (John Roderigo Dos Passos, oriundo de uma família portuguesa, Madeira), escritor e pintor norte-americano (1896-1970), in “Manhattan Transfer” (1925), Ed. Presença, 2009