05 maio, 2024

Pétala nº 3816

"Deus espera na escuridão."
(Valter Hugo Mãe))


Deus é exactamente como as mães. Liberta seus filhos e haverá de buscá-los eternamente. Passará todo o tempo de coração pequeno à espera, espiando todos os sinais que Lhe anunciem a presença, o regresso dos filhos. 
Deus é exactamente como são as mães, que criam e depois vão ficando para trás, numa distância que parece significar que não são mais precisas, e Ele, como elas, só sabe amar acima de qualquer defeito e qualquer falha, com cada vez mais saudade, mas não sabe o caminho, não sabe por onde os filhos foram, só pode suplicar que não se percam e não se percam da vontade de voltar. (…)

Deus como as mães, corre os dias inteiros à janela e escuta. Qualquer bulício Lhe acelera o coração. Se existem passos em redor de Sua casa, se alguma voz o  chama, palpita como doido de alegria na esperança de ter um filho em visita. (…) 
Exactamente como as mães, Deus cozinha seus pratos favoritos e acredita que agora ficarão para sempre ou, ao menos, regressarão todos os fins-de-semana, todos os meses, que não vão ficar separados, sem notícias tanto tempo, porque dói demasiado. (…)
Deus, como são as mães, tem a impressão que vai morrer se não voltar a ver os filhos. (…)
 
“Todos deveríamos amar como amam as mães, que julgo ser como Deus ama.”

VALTER HUGO MÃE, escritor português (1971-), in “Deus na escuridão”, Porto Editora, 2024



2ª foto: net


Boa semana!


29 abril, 2024

Pétala nº 3815


“Ler, uma actividade em extinção, por muito que as livrarias estejam cheias de feéricas capas, por muito que se diga a gigantesca asneira de que ler num ecrã de telemóvel é o mesmo que num livro (experimentem a Montanha Mágica ou a Guerra e Paz…), ou que a “geração mais preparada” pode fazer um curso superior sem ler um livro (bem, dois, três e já é muito), e por aí adiante. 
Falar e escrever bem também estão em extinção, com a redução do vocabulário circulante a puco mais do que os antigos 140 caracteres do Twitter, agora 280 no X, o que vai dar ao mesmo - a enorme dificuldade de expressão que se vê todos os dias e por todo o lado.
Qual é o problema? É que quem não lê, não fala e não escreve decentemente, é menos livre, mais facilmente manipulado, menos eficaz em coisa alguma importante, mais fácil de ser mandado e de não mandar nem em si próprio. Ou seja, repito, menos livre. (…)
 
Na verdade, quem defende esta nova forma de ignorância agressiva e de deslumbramento tecnológico não são os novos ignorantes, mas os antigos ignorantes, a quem as redes sociais dão uma ilusão de igualdade e presunção de saber que transporta todos os preconceitos da ignorância com o ressentimento em relação ao saber e ao esforço de saber. São a forma actual do anti-intelectualismo trasvestido de modernidade, cujos estragos na educação, no jornalismo, na sociedade, na cultura e na política são devastadores (…)
É que ler é entrar em todos os mundos, alegres e sinistros, apaziguadores e violentos, nossos e alheios, e que nunca acabam.” 

JOSÉ PACHECO PEREIRA, licenciado em Filosofia, historiador, professor universitário, cronista e político português (1949-), in crónica “Porque é que ler conta e muito, para a liberdade”, jornal Público, 9 Março 2024


(fotos Pixabay)

22 abril, 2024

Pétala nº 3814

"Acuso!, protesto!, acuso!
De que me vale?"
(José Régio)


CÃNTICO NEGRO

Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas nossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como a um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pais, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah! que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!

JOSÉ RÉGIO (pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira), nasceu em Vila do Conde, em Setembro de 1901. Foi professor, escritor e desenhador. Faleceu em Dezembro de 1969.
Poemas de Deus e do Diabo”, o seu primeiro livro de versos, foi publicado em 1925, era ainda estudante do curso de filologia românica, em Coimbra. A maioria dos poemas do livro foi escrita na adolescência.
No posfácio da edição de 1969 escreveu:
"Um escritor presente à cena literária durante mais de quarenta anos – acha riquíssimas oportunidades de observação no palco, na plateia, nos bastidores. E várias coisas que de momento lhe haviam interessado vivamente – a quase só fumarada e algazarra se lhe reduzem depois. Claro que não tem que se arrepender. Sem a faculdade da ilusão, que movimento e que acções nos seriam possíveis? Só tem que aprender. E até continuar a enganar-se, a iludir-se, a errar, a tactear, se para verdadeiramente continuar a aprender lhe for isso necessário. (…)
Não me arrependo das polémicas em que tenho entrado: umas vezes provocadas por mim, outras desafiado por elas.(…)
Se o polemista não está de todo cego, ou o não é sem remédio, até na polémica pode dizer coisas interessantes, inteligentes ou justas de parte a parte."


(fotos net)

15 abril, 2024

Pétala nº 3813

"Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!"
(Florbela Espanca)


“Falo com a vida como se estivesse a falar com uma pessoa, com um anjo ou com Deus. Torno-a numa entidade com quem se fala.” 
JORGE PALMA, músico, compositor e cantor português (1950-), em entrevista a Nuno Pacheco, revista Ípsilon, jornal Publico, 28 Abril 2023 

“Tenho duvidado da existência de Deus: os adultos mentem sempre, e foram eles que me falaram da existência de Deus.” 
SILVINA OCAMPO, escritora argentina (1903-93), in “As Convidadas - O diário de Porfiria Bernal”, Ed. Antígona, 2022” 

“… se acreditasse em Deus, não quereria prostrar-me à frente dele e pedir-lhe perdão. Limitar-me-ia a agradecer-lhe todos os dias, por tudo.” 
SALLY ROONEY, escritora irlandesa (1991-), in "Mundo Belo, onde Estás" (Beautiful World, Where Are You, 2021), Ed. Relógio D'Água, 2021 

"Eu acho que Deus é uma projeção humana, é um desejo infinito que nós temos de adoração, e de algo que nos suspende com o sentido absoluto."
ADÉLIA PRADO, filósofa, professora, contista e poetisa brasileira (1935-) 



Aos olhos dele

Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

FLORBELA ESPANCA, poetisa portuguesa (1894-1930)

(fotos Pixabay)

08 abril, 2024

Pétala nº 3812

“… gelado de chocolate e framboesa. Pura felicidade.”
(Valérie Perrin, in "os esquecidos de domingo")


“Existem vários mitos em torno do conceito de felicidade. O ter dinheiro, sucesso profissional, mais recentemente, nalguns jovens, ser famoso. Mesmo a velha frase ser rico não dá felicidade, mas ajuda muito, não é verdadeira. O contrário é bem mais real. A pobreza raramente está relacionada com a felicidade, porque a falta de bens materiais, implica frequentemente falta de saúde, que é um dos indicadores de felicidade.”

“Então, como é que eu posso ser feliz?
(…) vale a pena pensar sobre a importância de cultivarmos a relação com os outros. (…) Com os amores, com a família, com a senhora ou com o homem da caixa do supermercado, com quem nos serve o café todos os dias. Viajar, comer bem, conhecer sítios bonitos é bom, mas contribui muito pouco para a nossa felicidade."

O mais importante na vida e que gera mais felicidade e infelicidade, são as relações que temos e as formas como as vivemos.

JOSÉ GAMEIRO, psiquiatra português (1949-), in ensaio “A receita para a felicidade”, publicado na revista "E", do jornal Expresso, 5 Maio 2023

Felicidade não há.
Creio no contentamento,
Na alegria e o intento
De ser feliz. O maná
Não cai do céu, nem virá
Como a graça do divino,
O ser busca pelo tino
Um algo transcendental
Que só virá no final
Da vida, como destino.

(Comentário, Pétala nº 3710)

(fotos net)

01 abril, 2024

Pétala nº 3811

"O tempo existe e tem som."


“Nas aldeias, ou nas cidades, nas casas perto das igrejas, o som dos sinos que assinalam a passagem das horas ainda resiste – e por vezes incomoda um pouco, mas sim, impõe respeito. O tempo existe e tem som."

“… para os distraídos do mundo, uma possível oferta: um relógio que em vez de emitir um tic-tac constante ou em vez do som de um pássaro, que hora a hora nos faça saltar de susto pelo volume sonoro e não pelo conteúdo da mensagem, em vez disso, ter um relógio que murmure, alternadamente duas frases:
- não te esqueças que vais morrer 
- não te esqueças de viver 
Duas frases que estão evidentemente ligadas e de que muitos filósofos já falaram com detalhe. Imaginar, então, um relógio que, por exemplo, a cada 30 minutos diga a frase “não te esqueças que vais morrer” e a cada 15 minutos a frase “não te esqueças de viver”. Cada pessoa poderia, claro, manipular a frequência das duas frases de acordo com o seu gosto privado, no limite ficando apenas, por exemplo, com a frase “não te esqueças de viver” a ser ouvida a cada hora. Um relógio cuja passagem do tempo seja assinalada com frases sábias.“ 

GONÇALO M. TAVARES, professor e escritor português (1970-), in crónica “O som que o tempo faz quando muda o ano”, revista "E", jornal Expresso, 5 Janeiro 2024



PORTUGAL / Aldeia histórica do Piódão, fotos daqui.


Obrigada Luis, pela linda flor primaveril.
 Ao amigo poeta / pintor, desejo uma feliz e inspiradora Primavera.


25 março, 2024

Pétala nº 3810

"The art of losing isn’t hard to master"
(Elizabeth Bishop, primeiro verso do poema "One Art", 1976)


“Nascemos e morremos nus. Chegamos e partimos de mãos vazias. Gosto muito do poema de Elizabeth Bishop em que ela descreve a vida como «arte de perder». Tem razão. Perder, desprender, desaprender. Aprender a fazer isso o melhor que possamos. Aprender a desaprender, como o mestre Alberto Caeiro. (…) A vida tem isto de paradoxal: somar por somar redunda num diminuir grotesco. O verdadeiro somar, a ampliação efetiva da vida passa pela aceitação de diminuir, de tornar-se pequeno, de ser o último, de servir.”

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-) em entrevista a Christiana Martins, publicada na revista "E", do jornal Expresso de 22 Dezembro 2023

Leia o poema de Elizabeth Bishop: aqui.


O GUARDADOR DE REBANHOS

XXI
O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamam estrelas e flores.

Versos de Alberto Caeiro, heterônimo de FERNANDO PESSOA poeta português (1888-1935), 
in "Antologia poética", R.B.A. Editores, 1994


(fotos net: flor dente-de-leão)

Desejo-lhe uma Santa e doce Páscoa. 



18 março, 2024

Pétala nº 3809

"O amor! Que imenso mar!"
(Antero de Quental, in "Primaveras românticas")

 

Coisa amar  (excerto)
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor de fixação (excerto)
Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.

MANUEL ALEGRE, poeta e político português (1936-)


Súplica (excerto)
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

MIGUEL TORGA, poeta português (1907-95), in "Poesia completa", Ed. Dom Quixote, 2000


“Andar sem amor pela vida é como (...) fazer-se ao mar sem estrela-guia.”

STENDHALescritor francês (1783-1842) 



(Fotos: PORTUGAL/Porto Santo, 2023)

11 março, 2024

Pétala nº 3808

Pessoa, pessoas, pessoas...


“Será que algumas pessoas não conseguem ver para além daquilo que se lhes coloca à frente?” 

"… as pessoas seguem o seu caminho sem se encontrarem, se o vento do destino não as unir.”

“As pessoas podem amar-se e, no entanto, perder-se.” 

BERNHARD SCHLINK , escritor alemão (1944-), in “A Neta”, Ed. ASA, 2023


“O número de pessoas que conhecemos em profundidade é estranhamente escasso.” 

“Todos somos capazes de pensar em pessoas que usam a simplicidade fabricada ou artificial como modo de passar pelo mundo.” 

JULIAN BARNES, escritor inglês (1946-), in “Elizabeth Finch”, Ed. Quetzal, 2022


“Há pessoas que possuem uma afetividade falsa, pessoas muito pobres de sentimentos que fingem ser afeto. Esses são intitulados «artistas da vida».”

“Se pudesse transformava todas as pessoas do mundo em não desconhecidas.”

DAVID GROSSMAN, escritor israelita (1954-), in “A vida brinca comigo”, Ed. Dom Quixote, 2020

(fotos net)




04 março, 2024

Pétala nº 3807

A magia dos diálogos, na narrativa de um dos meus escritores preferidos...


"Posso fazer-te uma pergunta?
Isso já é uma pergunta. Tens mais alguma?

"Está tudo bem contigo?
Não. E contigo?
Não. Mas temos expectativas reduzidas. Isso ajuda."

"Continuas a pensar que há qualquer coisa que não te estou a contar.
Não estou preocupado.
Quer dizer que achas que acabarei por te contar.
As pessoas contam a um estranho no autocarro aquilo que não contam ao cônjuge.
É bastante deprimente, não é?"

“A vida é estranha.
“A quem o dizes. Mas deixa-me dizer-te què mais estranha para uns do que para outros.
Talvez queira dizer que uma pessoa paga pelo que faz.
Creio que isso é uma grande verdade. Acredito que sim.
Ainda assim, acho que certas pessoas acabam por pagar um preço superior à dívida.
‘Tás a falar por ti...?
Não sei. Mas gostava de saber quem é que faz o registo.
Ámen.”

"O que é que os outros julgam ver em nós?”
“... se há algum traço comum no nosso entendimento, é o de que somos seres falhados. Cá no âmago, é isso que sabemos.
Achas que nos detestamos a nós próprios.
Acho. É um castigo insuficiente, claro. Mas sim, acho.
Quer dizer que o mundo é um lugar horrível?
Um lugar horrível.” 

“Talvez sejas somente um acumulador de amarguras.
Eu não sou uma pessoa amargurada…
Bem, alguma coisa serás. O quê? Um tratado sobre a tristeza? Clássico, isso. O terreno da tragédia…”

“Sou um observador da eternidade. 
A eternidade é muito tempo. 
Não me digas.”

CORMAC McCARTHY, escritor americano (1933- Junho 2023), in “O Passageiro”, Ed. Relógio d’Água, 2022)

(Diálogos encontradas nas 424 páginas do livro, aqui alinhados a meu gosto.)



"Não existe ninguém como McCarthy na literatura contemporânea americana."
(The New York Times)


(Foto: PORTUGAL/Mafra - Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, 2023)


26 fevereiro, 2024

Pétala nº 3806

“Quero que me abraces, 
antes que a tristeza envelheça no meu peito.” 
(Graça Pires. in “Poemas escolhidos 1990-2011”)


“A tristeza é um ser concreto, mas a alegria também. Porém, mais concreta do que a alegria e a tristeza, é a dor. De concreta que é, não se pode descrever.” 
LÍDIA JORGE, escritora portuguesa (1946-), in “Misericórdia”, Ed. D. Quixote, 2022

“A dor é aquilo de que a vida é feita. Uma vida sem dor não é vida, não é nada.” 
CORMAC McCARTHY, escritor americano (1933- 2023), in “O Passageiro”, Ed. Relógio d’Água, 2022) 

“A dor que a omissão traz, a dor que o silêncio esconde.” 
“Não é a perda irremediável que me torna triste. É o vazio que me entristece. O vazio, a dor do vazio, a dor.” 
BERNHARD SCHLINK , escritor alemão (1944-), in “A Neta”, Ed. ASA, 2023 

"Às vezes, um homem que está triste deita com a conversa a tristeza pela boca fora. Às vezes, um homem que se encontra a pontos de matar, deita com o falar, o assassínio pela boca fora e já não mata.”
JOHN STEINBECK, escritor norte-americano (1902-68), in “As vinhas da ira”, Ed. Círculo de Leitores, 1981 
Prémio Nobel de Literatura, 1962



(foto Pinterest)

19 fevereiro, 2024

Pétala nº 3805


"Sabemos que o céu não nos cobre apenas nos dias de alegria, mas também nos tempos de tristeza e sofrimento. Nas horas de encruzilhada, em que a esperança parece diminuta. Sabemos que nenhum lugar tem mais céu do que outro. O santuário não tem mais céu do que o lugar onde trabalhamos, onde nos comprometemos, na ação e na fadiga, com a nossa profissão, o nosso serviço. Sobre o teto acolhedor não existe mais céu do que sobre a estrada solitária que atravessamos."

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-) in “Uma beleza que nos pertence”, Ed. Quetzal, 2019


"O céu não está em cima, ou em baixo, ou à direita, ou à esquerda; 
está no centro do peito do homem que tem fé."

SALVADOR DALI, pintor espanhol (1904-1989)


(Fotos tiradas da minha varanda)

12 fevereiro, 2024

Pétala nº 3804

Amorrinho! 
Era assim que ele me chamava. Quem? 
Desvendo abaixo.
 

Encontrei no romance "O inverno do nosso descontentamento" um rol infindo de nomes ternurentos que Ethan (protagonista de uma história encantadora) chama a Mary, a sua mulher amada. Compartilhei-os no "Rol de Leituras", no doce Dezembro de 2019. Hoje, decidi plantá-los aqui.

Leia, divirta-se, memorize alguns, use-os. Há ocasiões em que uma simples palavrinha muda tudo para melhor.

ablativo absoluto
amor
amorzinho
botão de rosa
caracolinho
carícias
coelhinho
deliciosa mulherzinha
doçura
dorminhoca
encanto
esposa sem mácula
esquilo voador
filha de príncipe
flor dos campos
joaninha
madona
miss ratinha
mulherzinha querida
navio de luxo
pãozinho com mel
passarinho
patinho
pequenina
pequenina desavergonhada
pézinho de flor
pintainha
pintainho em flor
pomba
pombinha
pulgão
querida
queridinha
raminho de feto
rapariguinha em flor
ratinha
torrãozinho de açúcar
vossa alteza

JOHN STEINBECK, escritor americano (1902-68), in “O inverno do nosso descontentamento”, Ed. Circulo de Leitores, 1993
Prémio Nobel de Literatura, 1962
Pois... era o meu filho, aqui no dia do seu 2º aniversário. 'Amorrinho', repetia ele sem parar.
Hoje, com 48 anos, chama-me Mãe, raras vezes Mãezinha. E eu continuo a amá-lo,
como no dia em que nasceu.

Queridos amigos, na sequência do meu desabafo na passada segunda-feira, passo a informar que depois de analisados os resultados de todos os exames fui medicada para a pressão arterial (durante um mês, depois volto ao médico) e... para o sistema nervoso, segundo o médico a causa provável da súbita e vertiginosa subida da pressão. Como todos os resultados das análises são óptimos, será o meu emocional o culpado disto tudo.
Tenho mesmo de acalmar angústias, de relaxar o corpo e a mente. Eu sei que sim, mas, acreditem, não é fácil!
Vou andar por aqui. Faz-me bem!
Beijos e abraços. 

Grata a todos, por tudo! 🙏


(foto net)

05 fevereiro, 2024

Pétala nº 3803

Taj Mahal, símbolo do Amor Eterno


“O amor eterno não existe. Mesmo a mais forte paixão tem o seu tempo de vida. Chega seu dia, se acaba, nasce outro amor.” 
JORGE AMADO, escritor brasileiro (1912-2001) 

“Amores eternos existem sim, e superam qualquer coisa, mesmo quando ninguém mais acredita neles, eles continuam sempre à espreita, esperando apenas um olhar, um retorno, uma reconciliação.”
AUGUSTO BRANCO, pseudónimo de Nazareno Vieira de Souza, poeta e escritor brasileiro (1980-)

“O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.” 
EÇA DE QUEIRÓS, escritor e diplomata português (1845-1900)

"Tanta gente quer fórmulas de amor eterno. Não acredito em fórmulas, mas, por via das dúvidas, não fale, não conte detalhes, não satisfaça a curiosidade alheia. A imaginação dos outros já é difamatória que chegue."
MARTHA MEDEIROS, escritora e poetisa brasileira (1961-) 

“O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.” 
ADÉLIA PRADO, filósofa, professora, contista e poetisa brasileira (1935-) 


MORRER DE AMOR 

Morrer de amor 
ao pé da tua boca
 
Desfalecer 
à pele 
do sorriso 

Sufocar 
de prazer 
com o teu corpo
 
Trocar tudo por ti 
se for preciso 

MARIA TERESA HORTA, escritora, jornalista e poetisa portuguesa (1937-)

Fotos: ÍNDIA /Agra, 2010. 

Texto e fotos aqui.

 
Queridos amigos, há dias o meu coração pregou-me um valente susto quando começou a bater desordenadamente ao mesmo tempo que a pressão arterial subia vertiginosamente. Já fui vista pelo meu médico, já fiz exames, já acalmei. Aguardo os resultados.
Vai ficar tudo bem, sei que sim, mas... filha de doente cardíaco tem medo de um coração descompassado.
Desculpem se não os visitar com a assiduidade habitual.
Beijos e abraços.

Grata a todos, por tudo! 🙏


29 janeiro, 2024

Pétala nº 3802

"Toma as minhas mãos e vem voar comigo."
(Albino Santos, in "Desvenda-me a noite")


"Toma as minhas mãos e vem voar comigo.
Envolve-te em minha dança, dá-me o teu céu e todas as tuas vontades, derrama sobre mim todo o desejo e abraça-me enquanto a dança durar, nos acordes de uma música que não pára de tocar."


AMANHECE

Amanhece.
A noite ainda brinca no nosso corpo.
Teus olhos nos meus a fazer fogueira,
fogo queimando o tempo
e murmúrios afogados nos lençóis da noite
que ainda retêm teu cheiro,
fazendo arder a nossa vontade.
Não quero acordar nem dormir.
Quero o amanhecer imprevisível do amor
silencioso e cúmplice,
o sabor oculto
o prazer do enlace
o deslumbrado abandono,
o desejo solto nos teus lábios
onde o sol se acende,
o fogo inunda,
e o prazer se derrama...

ALBINO SANTOShttps://as-polyedro.blogspot.com/, in "POLIEDRO", Seda Publicações, 2023


Obrigada, meu amigo!


(Fotos: PORTUGAL/Cascais - Parede, um amanhecer de Dezembro 2023)

22 janeiro, 2024

Pétala nº 3801


As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

JORGE SOUSA BRAGA, poeta, tradutor e médico português (1957-), in "Herbário", Ed. Assírio &Alvim, 1999


“Todas as árvores do mundo cantam, caladas.”

LÍDIA JORGE, escritora portuguesa (1946-), in “Misericórdia”, Ed. D. Quixote, 2022 


“Porque é que o cheiro da madeira nos sabe tão bem? … Por nós, seres humanos, termos vivido em cabanas de madeira, antes de construirmos casas de pedra? Por os nossos primeiros utensílios terem sido de madeira? Por a madeira ser uma matéria viva, que cresce e envelhece, tal como nós crescemos e envelhecemos?”

BERNHARD SCHLINK , escritor alemão (1944-), in “A Neta”, Ed. ASA, 2023


Fotos de duas amigas: Mena e Gracinha.
1ª e 2ª "Maior de sessenta"
"Os olhares da Gracinha"
Obrigada a ambas.